Precisamos falar sobre o suicídio.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015), mais de 800 mil pessoas morrem em decorrência do suicídio, anualmente. Estatisticamente falando, isso equivale a uma morte, a cada 45 segundos.
Ao final de um ano, o número de suicídio no mundo chega a superar a soma de todas as mortes causadas por homicídios, guerras, conflitos civis e acidentes de transportes.
Mas, infelizmente, apenas 28 países possuem estratégia nacional de combate ao suicídio.
Neste artigo, falamos sobre:
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O suicídio no Brasil
Os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que, em média, 11 mil suicídios são registrados no Brasil, anualmente. É a terceira maior causa de morte entre homens de 15 a 29 anos, e a oitava entre mulheres da mesma faixa etária.
Em 2011, foram registrados 10.490 suicídios no país. Já em 2015, esse número aumento para 11.736 suicídios. Isso representa um aumento de 5,7% na taxa de mortalidade por suicídio a cada 100 mil habitantes, segundo informações do Sistema de Informação Sobre Mortalidade.
O Brasil está entre os 10 países que registram os maiores números absolutos de suicídio, de acordo com a OMS!
Quais as causas do suicídio?
Em primeiro lugar, não é porque uma pessoa perdeu o emprego ou terminou um relacionamento amoroso que vai tentar suicídio.
O comportamento suicida envolve vários fatores socioculturais, genéticos, psicodinâmicos, filosófico-existenciais e ambientais.
Entretanto, a existência de um transtorno mental representa um forte fator de risco para o suicídio.
Em uma revisão de 31 artigos científicos publicados entre 1959 e 2001, que reuniam dados sobre 15.629 suicídios ocorridos na população geral. 96.8% dos casos registrados estariam associados com histórico de doença mental.
Ou seja, se aquelas pessoas que cometeram suicídio tivessem sido avaliadas por psiquiatras, teriam sido diagnosticadas com algum transtorno mental.
É constatado que transtornos mentais como depressão, bipolaridade e dependência de álcool ou drogas psicoativas estão diretamente relacionadas com o suicídio.
Isso não significa que todo suicídio está associado a uma doença mental e nem que toda pessoa acometida de uma doença mental terá comportamento suicida. Mas, nesses casos, a atenção deve ser redobrada!
Como o suicídio afeta os amigos e parentes da vítima?
Segundo a cartilha de prevenção ao suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria, pelo menos mais 6 pessoas próximas ao suicida são diretamente impactadas pelo seu falecimento.
Quando uma pessoa decide pôr fim à sua própria vida, os seus amigos e familiares sofrem traumas psicológicos profundos. Elas experimentam sentimentos ambivalentes de luto, raiva, culpa e outros.
Apesar da expressividade dos dados já citados, estima-se que o número de suicídios seja ainda maior do que o registrado.
No entanto, há muitos casos que não são oficialmente registrados. E outros que são “mascarados” sob a denominação de mortes. Como, por exemplo, acidente automobilístico, afogamento, envenenamento acidental e “morte de causa indeterminada”.
Se os números de suicídios são tão alarmantes, por que os jornais raramente divulgam notícias a respeito?
Os jornais raramente divulgam notícias sobre suicídio. Quando divulgam, evitam detalhar os métodos utilizados pelo suicida para cometer o ato.
Isso acontece porque divulgação inadequada de uma notícia como essa poderia causar uma comoção desnecessária ao público. E estimular a tentativa de suicídio em pessoas vulneráveis. Uma espécie de contágio.
Portanto, um suicídio só vira notícia em 5 situações (Manual do Comportamento Suicida — Associação Brasileira de Psiquiatria):
- Quem morreu é uma figura pública ou celebridade.
- O suicídio foi precedido de assassinato, este último perpetuado por quem se matou.
- Atos terroristas, como no caso de homens-bomba.
- O suicídio provocou problema que afetou a coletividade (Por exemplo, engarrafamento).
- Exposição de caso, visando o sensacionalismo.
O que diferencia reportagens que estimulam a ideação suicida em pessoas vulneráveis das que incentivam a valorização da vida, mesmo abordando um caso de suicídio, é a forma como o tema é abordado.
Por exemplo, a divulgação repetitiva de uma notícia sobre suicídio está diretamente ligada ao aumento das taxas de suicídio (British Journal Of Psychiatry, 2010)
Por outro lado, o mesmo estudo indica que reportagens que abordam casos de pessoas que pensaram em se suicidar, mas não cometeram o ato estão associadas a diminuição das taxas de suicídio.
A simples ação da mídia em falar sobre casos de superação de adversidades e problemas emocionais pode ajudar a prevenir!
Como a hipnoterapia lida com o comportamento suicida?
É importante lembrar que o suicida, na maioria das vezes, não quer verdadeiramente morrer. O que ele procura é uma solução imediata para aliviar seu sofrimento emocional. É aí que entra a hipnoterapia.
A hipnoterapia não é um tipo de terapia, mas a utilização da hipnose em conjunto com alguma abordagem terapêutica. Como a Psicanálise, a Cognitivo-Comportamental ou a abordagem Gestalt.
O objetivo da hipnoterapia é ajudar o cliente a reconhecer suas potencialidades e a desenvolver uma atitude mental positiva diante das adversidades da vida. Esse novo mindset vai ajudá-lo a manejar melhor os seus conflitos e encontrar soluções.
O comportamento suicida, na maioria dos casos, é apenas um sintoma de transtornos mentais como depressão. Nesse contexto, o que realmente precisa ser tratado não é o comportamento suicida, mas os conflitos emocionais do cliente.
É importante lembrar que o tratamento de pessoas com ideação suicida ou que já tentaram se matar deve ser realizado em conjunto com o tratamento psiquiátrico e o apoio dos amigos e familiares.
Conheça agora alguns dos principais elementos envolvidos na terapia com hipnose para lidar com os sentimentos de uma pessoa que pensa em suicídio.
Empatia
O psicólogo Carl Rogers, criador da Terapia Centrada Na Pessoa, chegou à conclusão de que a empatia e a aceitação incondicional entre terapeuta e cliente são ingredientes fundamentais para a psicoterapia acontecer.
Rogers declara que a capacidade do terapeuta em se comunicar com o cliente de igual para igual, sem exercer julgamentos e aceitando-o incondicionalmente, é um fator preponderante no sucesso do tratamento.
Na Hipnoterapia, essa sintonia entre terapeuta e cliente é denominada rapport. O rapport representa o estabelecimento da confiança, harmonia e cooperação em uma relação.
O coach e palestrante internacional Anthony Robbins define rapport da seguinte maneira:
Rapport é a capacidade de entrar no mundo de alguém, fazê-lo sentir que você o entende e que vocês têm um forte laço em comum. É a capacidade de ir totalmente do seu mapa do mundo para o mapa do mundo dele. É a essência da comunicação bem-sucedida.
Sem sombra de dúvida, a construção de um relacionamento pautado na empatia é essencial. Representa o primeiro passo em direção à mudança de mente que uma pessoa com ideações suicidas precisa experimentar.
Anamnese
A anamnese é uma entrevista que o Hipnoterapeuta faz com o cliente. O objetivo dessa fase é ouvir cuidadosamente o que a pessoa tem a dizer sobre o problema e suas expectativas em relação ao tratamento.
É durante esta primeira conversa que o profissional tem a chance de observar melhor as reações emocionais do cliente.
Prestar atenção em sentimentos como: culpa, vergonha, medo, raiva, frustração, amor não correspondido, desesperança, sensação de desamparo, solidão, etc.
Compreender a razão positiva do comportamento suicida
Um dos pressupostos da PNL, baseados na Gestalt Terapia, diz que todo comportamento tem uma intenção positiva. Isso mesmo, todo comportamento, inclusive o suicida.
O comportamento suicida não se resume ao suicídio. Mas envolve um processo que tem seu inicio desde a ideação, tentativa, as ameaças e até o ato consumado, isto é, a morte.
É necessário refletir sobre o comportamento suicida como um todo e, assim, refletir sobre dois aspectos principais:
- Qual o pedido que o comportamento suicida revela? Ou seja, qual seria a mensagem existencial que uma pessoa que tenta se matar gostaria de transmitir?
- Qual o desejo que a pessoa que tenta o suicídio não consegue concretizar em vida?
A razão positiva do comportamento, na maioria das vezes, não está clara para a pessoa. Ela apenas sente a dor emocional e vê no suicídio a melhor opção para acabar com o sofrimento.
Como foi dito anteriormente. O suicida não tem a intenção de acabar com a própria vida, mas de encontrar uma solução imediata para a sua dor.
Por meio da Hipnoterapia, um profissional capacitado ajuda o cliente a examinar minuciosamente sua mente. Descobrir as razões positivas por trás do comportamento autodestrutivo. E criar soluções ecológicas para substituir o comportamento suicida por comportamentos que favoreçam a vida.
Eliciar recursos
Na Psicologia Comportamental, existe um conceito chamado Repertório Comportamental.
Esse conceito representa a disposição de uma pessoa para comportar-se desta ou daquela maneira em determinadas situações.
Por exemplo, uma pessoa ansiosa pode se sentir inclinada ao comportamento de comer compulsivamente para aliviar a ansiedade. E do mesmo modo, alguém que se sente estressado, pode recorrer ao comportamento de fumar um cigarro para reduzir o estresse.
Estas pessoas agem assim porque, inconscientemente, acreditam que contam apenas o comportamento de compulsão alimentar e fumar cigarros para alcançar um estado desejado.
O comportamento suicida segue o mesmo padrão. A pessoa quer aliviar o sofrimento emocional, mas, inconscientemente, acredita que apenas o suicídio pode ajudá-la a alcançar este objetivo.
O autoconhecimento proporcionado pela hipnoterapia ajudará esta pessoa a encontrar novos comportamentos para atingir o objetivo de se sentir bem. Sem a necessidade de se autodestruir.
Ancoragem de recursos
O grande desafio da terapia é ajudar o cliente com ideações suicidas a reencontrar o sentido para sua vida. Entender que ainda existe um porquê continuar vivendo. Pois, na percepção dele, não há mais razões para viver.
É necessário ajudá-lo a identificar momentos nos quais sinta que sua vida tem significado. Ou, mais especificamente, eliciar pensamentos que provocam no cliente a sensação de que ele está vivo. E de que viver ainda faz sentido.
Por meio de técnicas de regressão, o hipnoterapeuta pode ajudar o cliente a acessar bons sentimentos que estão guardados na sua memória e revivê-los como se estivesse acontecendo agora.
E mesmo que o cliente não consiga acessar essas memórias positivas, o hipnoterapeuta pode estimular sua imaginação para produzir imagens, sons e sentimentos que o ajudem a ter mais vontade de viver.
Ancoragem é uma técnica de Programação Neurolínguistica. Consiste em associar essas sensações positivas a estímulos sensoriais como, por exemplo, um leve toque no braço para reativar a sensação de bem-estar, sempre que a pessoa quiser.
Ressignificação de traumas
Uma pessoa deprimida e com ideações suicidas está sem perspectiva de futuro e em conflito com o seu passado. Há uma necessidade muito grande de auto aceitação.
Como você sabe, em mais de 90% dos casos, o suicídio é apenas uma consequência de transtornos mentais como depressão. A depressão ocorre por causas biológicas e psicológicas.
As causas psicológicas, na maioria das vezes, estão relacionadas com traumas emocionais sofridos desde a infância. E que, de alguma forma, se perpetuaram na vida adulta.
A técnica de ressignificação, realizada na hipnoterapia, faz com que o cliente consiga mudar o significado negativo dos acontecimentos do passado. E criar os recursos necessários para melhorar sua saúde emocional.
- Veja outros mecanismos de defesa do nosso consciente
Aumento da resiliência
O maior benefício da Hipnoterapia no tratamento do comportamento suicida é o aumento da resiliência da pessoa. O enriquecimento de seu repertório comportamental para lidar com as situações de estresse emocional comuns a todos nós.
A terapia tem impacto direto na autoestima e autoconfiança da pessoa. As crenças limitantes e conflitos emocionais são resolvidos. Sua vida passa a ter significado novamente.
Conheça o Centro de Valorização da Vida
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma associação civil sem fins lucrativos. Foi criada em 1962 para realizar apoio emocional e prevenção do suicídio.
Atendendo voluntariamente e gratuitamente todas as pessoas que precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias, o CVV foi reconhecido como serviço de utilidade pública federal em 1973.
No dia 1º de julho de 2018, o número do CVV (188) chegou aos 5.500 municípios brasileiros de forma gratuita!
A rede é fruto de um convênio com o Ministério da Saúde. Iniciou em 2015 e está em expansão desde setembro de 2017. O número 188 é o único telefone sem custo de ligação para prevenção de suicídio do país.
Não hesite em procurar ajuda!