Qual a diferença entre beber socialmente e ser um alcoólatra? O que faz o cérebro ter um vício em drogas? Você sabia que a hipnose clínica pode auxiliar no tratamento dos vícios?
Continue lendo para descobrir as respostas dessas perguntas!
O impacto da dependência química
No mundo
Anualmente, ocorrem cerca de 500 mil mortes em decorrência do uso excessivo de drogas, segundo a OMS.
Nos Estados Unidos, as mortes por overdose quase duplicaram entre 2013 e 2014, quando o país registrou mais de 47 mil mortes por essa causa, de acordo com a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes.
Alguns países, como Irã e China, têm punições severas para o consumo de drogas para e narcotráfico. Que podem inclusive chegar a pena de morte.
Entretanto, sabemos que essa não é a melhor solução para lidar com as drogas, pois se trata de uma questão de saúde. E não de segurança pública. (60th Session of the Commission on Narcotic Drugs).
No Brasil
No Brasil, a coisa não é muito diferente.
O SUS comunicou que, em 2007, ocorreram 138.585 internações em decorrência de transtornos mentais e comportamentais causados pelo uso de drogas.
Entre essas internações, 69% foram causadas pelo uso de álcool, e a cocaína está associada a 5% delas!
Em 2015, o IBGE fez uma pesquisa com cerca de 2,6 milhões de estudantes brasileiros que cursavam o 9º ano do ensino fundamental. E descobriu que 55,5 % deles já havia consumido bebida alcoólica, pelo menos uma vez na vida.
Esse percentual é superior ao observado em 2012, que foi de 50,3% ou 1,6 milhão. O dado mais preocupante é que a maior parte dos estudantes entrevistados era menor de idade, tinham entre 13 e 15 anos.
Isso significa que o público adolescente está tendo contato com as drogas cada vez mais cedo!
Como o vício em drogas afeta o cérebro?
O nosso cérebro possui uma estrutura denominada Sistema de Recompensa. É responsável por receber estímulos de prazer e transmiti-los ao corpo.
Este Sistema está ligado a instintos muito primitivos do cérebro, como a busca por água, por comida e por parceiros sexuais.
Esses objetivos são essenciais para a nossa sobrevivência e para a perpetuação da espécie. Ao realizá-los, o cérebro libera uma descarga de prazer que nos incentiva a repetir esses comportamentos.
Quando uma pessoa consome substâncias psicoativas, o Sistema de Recompensa também é acionado. Libera descargas de prazer, ainda mais intensas e imediatas!
É importante ressaltar que os estímulos reconhecidos pelo cérebro como essenciais para a sobrevivência são muito importantes.
Por exemplo, quando não estamos com fome, ver e sentir o cheiro de uma comida não tem tanto efeito sobre nosso comportamento. No entanto, se estivermos com fome, ao ver e sentir o cheiro de um alimento, nosso comportamento vai ser impulsionado para obtenção dessa comida.
Esse processo é fundamental para assegurar nossa sobrevivência no mundo.
Se uma pessoa estiver com muita fome e não tiver os meios para se saciar, pode ser levada a roubar ou cometer crimes para obter comida.
O que causa a dependência química?
Portanto, quando o vício em uma substância se instala, o cérebro é levado a agir como se os estímulos causados pelas drogas fossem biologicamente necessários.
Para o cérebro, o consumo da substância passa a ser uma questão de sobrevivência. Com a exposição repetida, a associação torna-se cada vez mais forte, suscitando uma maior resposta comportamental e neuroquímica.
O que faz algumas pessoas ficarem dependentes e outras não?
Nem todas as pessoas que usam ou experimentam drogas se tornam dependentes.
A vulnerabilidade de uma pessoa ao vício depende da combinação de fatores individuais, culturais, biológicos, sociais e ambientais.
Além dos fatores sociais e culturais, as diferenças na constituição genética também são relevantes para explicar porque algumas pessoas usam substâncias sem se viciar. E porque outras se tornam quimicamente dependentes.
Não é uma tarefa fácil identificar os genes que tornam uma pessoa predisposta ao vício, mas a existência desse fator já é comprovada.
Existem diversos fatores de risco e proteção no nível ambiental e individual de cada pessoa, que favorecem ou desestimulam o uso de drogas.
Fatores de riscos
Ambientais
- Disponibilidade de drogas
- Pobreza
- Mudanças sociais
- Cultura do círculo de amigos
- Profissão
- Normas e atitudes culturais
- Políticas sobre drogas, tabaco e álcool
Individuais
- Pré-disposição genética
- Vítima de maus-tratos quando criança
- Transtornos de personalidade
- Problemas de ruptura familiar e dependência
- Fracos resultados escolares
- Exclusão social
- Depressão e comportamento suicida
Fatores de proteção
Ambientais
- Situação econômica
- Controle de situações
- Apoio social
- Integração social
- Acontecimentos positivos na vida
Individuais
- Capacidade de resolução de dificuldades
- Eficácia
- Percepção dos riscos
- Otimismo
- Comportamento favorecendo a saúde
- Capacidade de resistência a pressão social
- Comportamento geral saudável
Como saber se uma pessoa tem um vício em drogas?
Quais os sintomas do vício? Quando o uso de uma substância passa dos limites e se transforma em dependência química?
A Classificação Internacional de Doenças (CID–10) utiliza 6 critérios importantes para caracterizar um vício.
O diagnóstico de dependência química é positivo quando três ou mais desses critérios são experienciados ou manifestados durante o ano anterior:
- Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância.
- Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de início, término ou níveis de consumo.
- Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi reduzido. Evidenciado por: síndrome de abstinência característica para a substância, ou o uso da mesma substância (ou de uma intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência.
- Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas.
- Abandono progressivo de prazeres alternativos em favor do uso da substância psicoativa. Aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a substância ou recuperar-se de seus efeitos.
- Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de consequências manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado por consumo excessivo de bebidas alcoólicas, estados de humor depressivos consequentes a períodos de consumo excessivo.
Apesar do resultado do diagnóstico depender da constatação de pelo menos três desses critérios, a maioria dos pacientes que procuram ajuda terapêutica preenchem facilmente todos eles.
A hipnose clínica no tratamento do vício em drogas
Como a hipnose clínica pode auxiliar no tratamento do vício em drogas?
Além da dependência química, que pode ser tratada com medicamentos e acompanhamento psiquiátrico, existe também uma dependência psicológica e emocional relacionada com a droga.
Como você viu no tópico anterior, fatores como maus tratos na infância, dificuldade em lidar com fracassos, sentimento de exclusão e depressão tornam um ser humano mais vulnerável à dependência química.
A hipnose clínica utiliza técnicas adequadas para ajudar o paciente a desenvolver os recursos que precisa para solucionar seus conflitos emocionais.
No caso do tabagismo, por exemplo, cada cigarro pode ter um significado distinto para o sujeito. Um cigarro é para compensar o estresse. Outro cigarro é para se distrair ou lidar com um sentimento de rejeição. E assim por diante.
O tratamento com hipnose é pontual e visa ressignificar a relação do sujeito com as drogas, enfraquecendo os vínculos emocionais com a substância.
É um trabalho de mudança de hábito!
6 benefícios em tratar vícios com a hipnose
- O cliente alcança o resultado desejado mais rápido. Isso acontece porque a terapia com hipnose é a mais pontual e atua diretamente nos gatilhos psicológicos que fazem a manutenção do vício.
- É possível parar de usar drogas sem sofrer com as crises de abstinência e efeitos colaterais, como compulsão alimentar, perda do apetite ou se viciar em outras drogas.
- A pessoa desenvolve um autocontrole maior das suas emoções, possibilitando que ela resista com mais tranquilidade diante das situações que antes lhe provocavam a vontade de usar substâncias.
- Por meio da hipnose, o indivíduo pode reduzir a ansiedade, controlar o estresse e aumentar a sensação de bem estar, sem a necessidade de usar entorpecentes.
- Se o paciente estiver fazendo tratamento psiquiátrico ou outras terapias, a hipnose clínica pode torná-lo mais participativo e engajado nesses processos.
- O autoconhecimento promovido pela terapia com hipnose faz com que a pessoa tenha mais consciência dos seus limites e escolha com sabedoria a maneira como deseja reagir nas situações que lhe faziam agir por impulso.
No decorrer da terapia, a pessoa experimenta uma reconexão emocional. Redescobre maneiras mais ecológicas e saudáveis para obter prazer e de lidar com as adversidades da vida.
Fonte:
- Curso Virtual Como Tratar Vícios. Alberto Dell’isola.
- Dependência química. Dráuzio Varella.
- Dependência Química – Classificação e Diagnóstico, Alessandro Alves.
- Neurociências: consumo e dependência de substâncias psicoativas, OMS, 2004.