Existe explicação para a fé? Como a neurociência tenta explicar crenças

A religião entende que a fé é acreditar no que é pregado pela doutrina e compreender as informações como verdade absoluta. Quem tem fé em Deus, por exemplo, crê que ele existe e que é onisciente. Mas e a neurociência? Qual é a explicação para a fé dada pelos pesquisadores? 

Ter uma explicação para a fé ainda é um desafio para muitos cientistas, que tentam desvendar os mistérios do cérebro. No entanto, alguns estudos já sugerem quais partes do cérebro são ativadas pelo sentimento de fé. 

Veja o que se sabe até agora e qual a explicação para a fé dada pela neurociência até o momento.   

O que configura como fé?

A palavra fé tem origem do latim fidis e significa ter confiança. Ela também é usada, frequentemente, como sinônimo de crença religiosa. Diz-se, nesse caso, que a pessoa tem “fé em Deus” ou “fé em Iemanjá”, por exemplo. 

Independentemente da crença ou da religião, estudos mostram que a fé pode estar diretamente ligada à uma melhora em quadros de saúde. Isso pode ser explicado pelo fato de pessoas que creem em uma força superior terem mais recursos internos para lidar com um diagnóstico complicado. 

Em suma, pode-se dizer que a fé deixa algumas pessoas mais felizes e faz com que elas tenham mais facilidade em superar adversidades. É por isso que, muitas vezes, médicos e psicólogos perguntam, já na anamnese, se a pessoa professa alguma fé.

Como a neurociência tenta explicar crenças religiosas?

O que acontece com o cérebro de pessoas que têm fé? Essa explicação para a fé é buscada pela neurociência e já traz algumas respostas. 

Um estudo publicado no Current Directions in Psychological Science, em 2020, que foi realizado pelo neuropsicólogo da Northwestern University Jordan Grafman, reuniu tudo o que a ciência sabe até hoje e que pode servir de explicação para a fé. 

Depois de compilar os dados, o autor concluiu que a fé envolve uma grande interação entre as atividades cerebrais. Isso inclui, inclusive:

  • o raciocínio;
  • as ideologias;
  • e as motivações sociais. 

Sendo assim, é algo muito complexo. Essa conclusão é baseada no fato de que algumas áreas do cérebro são ativadas enquanto as pessoas estão interagindo socialmente. E é graças a isso que algumas habilidades são desenvolvidas. 

Dentre elas, por exemplo, a capacidade de buscar prever e compreender o comportamento do outro e atribuir sentimentos que a pessoa poderia ter, para agir de determinada maneira.

Essa habilidade social se estende a tudo, até mesmo a um objeto ou à natureza. Se uma pessoa ouve uma trovoada, por exemplo, por vezes ela diz que o “céu está bravo”. 

Essa transferência e desenvolvimento de habilidade também são tidos como possíveis explicações para a fé. Como a pessoa usa a capacidade de tentar prever a reação do outro para objetos e fenômenos naturais, acaba se tornando viável imaginar um deus. Esse deus é um indivíduo, com vontade própria e motivação. É por isso que quando uma pessoa reza ela ativa a mesma área do cérebro de quando está interagindo com outras.

Estudos de caso relevantes

Embora a descoberta de que quando uma pessoa reza e fala com Deus ative a mesma área de quando ela interage socialmente possa servir de explicação para a fé, ainda há muito a ser descoberto. É por isso que, cada vez mais, pesquisas na área estão sendo desenvolvidas. 

Um dos estudos interessantes que tentam encontrar a explicação para a fé, foi feito por  Michael Persinger, em 1999. Na época, o neurocientista descobriu que quando os lobos temporais recebem estímulos elétricos, é possível gerar eventos que são frequentemente ligados à uma religião como, por exemplo, a presença de alguém invisível. 

Entretanto, quando o mesmo método de estímulo foi usado em outro estudo, realizado com o biólogo ateu Richard Dawkins e relatado  no documentário da BBC God on the Brain de 2003, o mesmo método não funcionou. O homem que não acreditava em Deus tinha uma sensibilidade no lobo temporal menor do que as pessoas que creem. 

Outro estudo interessante foi realizado pela Universidade de Oxford, em 2008. Durante a pesquisa foi mostrada uma imagem de Nossa Senhora. Além disso, outra foto de uma pessoa comum. Ambas para um grupo de católicos. Depois disso, eles foram submetidos a choque elétricos e a dor foi comparada. Notou-se que quando os católicos viam a imagem da Virgem Maria, a sensação de dor era menor do que quando eles visualizaram a foto de uma pessoa comum. Isso pode ajudar a compreender porque a fé costuma ajudar as pessoas em momentos difíceis. 

Embora a fé possa ser a fonte para as pessoas se sentirem melhor e lidarem bem com adversidades, há também as chamadas crenças fortalecedoras Descubra o que são.