A mente é dividida em consciente e subconsciente. De uma forma geral, é possível dizer que a porção racional está no consciente. Do outro lado, no subconsciente, há um acúmulo de emoções vindas de diversos acontecimentos da vida. Nesse sentido, existe um modelo de terapia denominado Terapia das Partes, que trabalha a causa da memória gravada no subconsciente.
Depois que o cliente entende o motivo de uma memória existente, fica mais fácil lidar com as sensações vividas.
Dessa forma, a Terapia das Partes pode ajudar pacientes a ultrapassarem barreiras e resolverem problemas atuais. Muitas vezes, esses problemas têm origem em sentimentos negativos acumulados no subconsciente. Continue a leitura e descubra mais sobre esse assunto!
Terapia das Partes: consciente x subconsciente
De acordo com o hipnotista Gerald Kein, a definição conceitual de hipnose é:
“…atravessar o fator crítico da mente consciente e estabelecer um pensamento ou sentimento exclusivo aceitável na mente subconsciente”.
Embora essa definição seja interessante para explicar a hipnose para leigos, ela pode ser um pouco limitada para o nosso objeto de estudo: a Terapia das Partes.
Segundo essa definição, o consciente protegeria o subconsciente. A hipnose seria, então, uma maneira de ultrapassar a barreira de proteção e chegar ao subconsciente.
Contudo, ao atuar no consultório, o hipnoterapeuta nota que não é bem assim que funciona. É possível observar que mesmo envolvida na proposta, nem sempre a pessoa responde bem ao que o terapeuta propõe. Conscientemente ela quer a mudança, mas algo que a bloqueia. Esse “algo” provavelmente está em seu subconsciente.
Isso acontece porque o cérebro humano naturalmente tenta proteger a pessoa. O subconsciente é tido por muitos como uma estratégia de sobrevivência. Nele, são acumuladas reações rápidas para que o organismo não dependa apenas de uma ação racional.
Dessa forma, mesmo que racionalmente o cliente diga que quer a mudança, o subconsciente a bloqueia. Logo, essa é uma forma de proteção.
Na Terapia das Partes, há a tentativa de fazer com que o subconsciente tenha uma visão diferente do que é chamado de “problema”. Por isso, é importante levar considerar que os sintomas expressados pela pessoa (ou seja, os problemas) são percepções racionais.
Assim, o problema é uma percepção consciente de uma questão emocional. E essa emoção, que está no subconsciente, nasce de um evento que a pessoa viveu.
Arquivando emoções no subconsciente
Quando a pessoa vive algo, o subconsciente acaba arquivando as informações. Isso acontece para que a pessoa reaja rapidamente caso passe por situação semelhante posteriormente. É como se fosse um instinto de sobrevivência. O subconsciente não cria essa memória por maldade, mas sim porque precisa de uma resposta emocional para as questões.
Do outro lado, o sintoma se apresenta como uma desculpa emocional para uma resposta emocional. Dessa forma, é possível compreender que a mente humana não é singular pois há partes envolvidas no processo.
Para ficar mais fácil compreender, imagine uma situação. Por exemplo: uma mulher tem diversas atividades durante o dia. Ela trabalha em uma multinacional, namora e faz pós graduação em uma universidade conceituada. Será que a maneira com a qual ela se comporta no trabalho ou na universidade é a mesma no convívio com o namorado? Provavelmente não!
Essa mudança de comportamento vem do subconsciente. Não é que a pessoa seja falsa. O subconsciente, por meio de situações já vividas, sabe que ela deve se comportar de maneira diferente em cada lugar. Naturalmente, sem precisar pensar, a pessoa é mais afetuosa em um local (namorado) e mais séria em outro (trabalho e estudos).
Outra forma de identificar momentos em que as memórias do subconsciente agem é quando a pessoa está indecisa. A parte que ganha é a parte que foi mais fixada no subconsciente.
Por exemplo, se a dúvida é comer brigadeiro ou ir para a academia, ganha quem tiver mais informações arquivadas no subconsciente.
A Terapia das Partes na prática
Nesse modelo de terapia, o hipnoterapeuta atua como mediador entre as diversas partes do cliente. A Terapia das Partes enxerga o ser humano como um quebra-cabeças, ou seja, ao tirarmos uma peça, ficamos incompletos.
Nesse sentido, cabe ao profissional lidar com uma mente consciente do paciente. Da mesma forma, ele precisará trabalhar com o subconsciente desse cliente, diretamente associado a eventos. Isso levará autoconhecimento ao processo terapêutico.
Assim, para ajudar um cliente, é preciso fazer com que ele entenda os motivos da memória criada. Para isso, não precisa, necessariamente, atingir o sonambulismo. Contudo, em alguns casos ele é recomendado para garantir uma maior assertividade. Afinal, quanto mais em vigília, maior a interferência da mente consciente com a percepção externa, com a justificativa.
A ideia é se afastar da percepção externa e se aproximar do subconsciente. Aos poucos, é preciso fazer perguntas para a pessoa que está no estágio de sonambulismo. A intenção é ajudá-la a identificar, por exemplo, um trauma vivido que ficou gravado no subconsciente. Assim, as partes subconscientes são atingidas para que a causa do trauma seja revelada.
Outra forma é através da visualização. Essa pode ser usada até na auto-hipnose, situação em que a pessoa vê o problema ou a solução do problema em sua própria mente. Depois, permite que a intuição atue.
Dessa forma, a Terapia das Partes pode ser usada até para resolver um conflito. Por exemplo, quando a pessoa está em dúvida entre duas cidades para viajar. O indivíduo pode pensar nas duas e imaginar que está avaliando em cada uma delas. Assim, irá identificar as vantagens que vai ter em cada local e conseguirá decidir.
Além da Terapia das Partes, a hipnose se baseia muito também na forma como os valores são moldados. Descubra o que é reprogramação mental e como fazê-la!
Este artigo é baseado em uma aula ministrada ao vivo pelo escritor e palestrante Rafael Kraisch para os alunos dos cursos online do professor Alberto Dell’isola.