O seguinte artigo é um exemplo do ponto de vista sociocognitivo da hipnose.
Fonte: Alex Iglesias e Adam Iglesias (2011). Hipnose clínica com os jogadores de uma liga infantil de beisebol: melhoria do desempenho e resolução de experiências traumáticas. American Journal of Clinical Hypnosis, 53:3, 183-191. Traduzido e adaptado.
O seguinte artigo trata-se do uso de hipnose clínica com os jogadores de uma liga infantil de beisebol. O objetivo do experimento foi a melhoria do desempenho e a superação de experiências traumáticas.
Foi criado o Grupo de Formação de Aprimoramento, com o intuito de melhorar o desempenho de jogadores que não eram pacientes de hipnose, previamente.
Empregou-se a hipnose clínica para trazer à tona recomendações feitas pelos treinadores.
Portanto, priorizou-se a resolução de hábitos inadequados involuntários. Estes, secundários a uma experiência traumática que impede ou compromete o desempenho ideal.
Confira!
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O uso da hipnose no atletismo
O papel da hipnose para maximizar e otimizar o desempenho no atletismo já possui um histórico bem documentado (Liggett, 2000).
Há documentos que apoiam o uso da hipnose para melhorar o desempenho em tiro no biatlo olímpico (Groslambert, Candau, Grappe, Dugue & Rouillon, 2003), no golfe (Pates & Maynard, 200), no tiro com arco (Robazza & Bortoli, 1995), na ginástica (Liggett & Hamda, 1993), no levantamento de peso (Howard & Reardon, 1986) e na corrida de longa distância (Callen, 1983).
Porém, uma revisão da literatura indicou uma ausência de relatos publicados sobre o uso da hipnose no esporte com crianças, no contexto do jogo de beisebol.
O Grupo de Formação de Aprimoramento
A liga infantil de beisebol é uma organização nacional. Tem uma excelente reputação e reconhecimento pela abordagem profissional no ensino do beisebol.
Os pais costumam levar muito a sério a participação de seus filhos tanto no esporte quanto nessa organização. Alguns dos pais, inclusive, tentam de tudo aumentar as oportunidades de suas crianças no beisebol. E para isso, procuram a instituições e consultorias privadas, principalmente, instrutores de rebatedor.
Dentro dessas consultorias, há crianças que são capazes de responder às sugestões verbais do instrutor e de mudarem suas performances, na base. Por sua vez, há outras crianças que não conseguem absorver e aprimorar a técnica, quando lhe dão recomendações exclusivamente por meios verbais. E estes são os suscetíveis ao processo hipnótico, deste experimento.
Recebemos referências de instrutores de rebatedores que identificam as crianças que possuem dificuldades em incorporar as suas instruções. Uma gravação de vídeo da criança fazendo o seu giro normal é feita, juntamente com as recomendações do instrutor. As recomendações devem ser expostas em formulário, com instruções explícitas para cada alteração recomendada. O vocabulário do instrutor é empregado, igualmente, nas sugestões hipnóticas empregadas do tratamento.
Etapas do procedimento
A visita inicial com os pais e a criança abrange seis objetivos:
- Visualizar o vídeo da criança realizando o giro habitual, para reconhecer os elementos que o instrutor designou para a mudança.
- Revisar a lista de modificações operacionais feitas pelo instrutor e contrastar com a abordagem usual da criança.
- Discutir a abordagem de visualização e indicar que essas técnicas são empregadas por atletas olímpicos.
- Indicar que os atletas olímpicos fazer um ensaio mental, em vez do ensaio ao vivo.
- Refutar os equívocos sobre técnicas de visualização. Isso inclui o medo de perder o controle e a preocupação de não conseguir retornar ao estado de vigília, em hipnose.
- Alertar que as aplicações desses procedimentos também são utilizadas e reconhecidas na medicina, na psicologia e na odontologia.
Iniciamos o Grupo de Formação de Desempenho na segunda visita. Uma vez que a criança está em transe moderado, começamos por sensibilizar a criança para os elementos que o instrutor identificou e que precisam serem mudados.
Instruímos a criança a se ver em sua mente realizando cada modificação específica da maneira recomendada por seu instrutor. As sugestões de hipnose no esporte são expressas na linguagem exata do instrutor. O ensaio de visualizar-se começa em um ritmo mais lento e, ao dominar a técnica, velocidade pode ser aumentada.
Ensinamos a autoindução, e a criança ensaia as modificações individuais abordadas na sessão, duas vezes por dia em casa.
Relato de caso
Um menino de 8 anos foi encaminhado para o Grupo de Formação de Desempenho pelo seu instrutor.
O menino estava tendo dificuldades em colocar em prática as recomendações fornecidas por seu instrutor. Após concluídas as preliminares, na primeira sessão, o tratamento foi iniciado na segunda visita.
Após a indução, ajudaram ao menino a visualizar, em hipnose, cada parte de seu estilo de ataque escolhido para a mudança. Cada componente foi, então, substituído em hipnose pela recomendação feita pelo instrutor.
Neste caso em particular, a lista de modificações incluiu:
a. Evitar as mãos de irem para a frente, até que você esteja pronto para girar.
b. Manter as mãos ao nível do peito.
c. Usar os quadris para começar a rebater e gerar velocidade de morcego.
d. Transferir o peso de uma perna para a outra, durante o giro.
e. Seguir a bola com os olhos, até que o taco a atinja
f. Giro em um ângulo para baixo
g. Encurtar o giro e encontrar a bola, mais cedo
h. Completar o giro/seguir em frente.
Procedimento
A indução hipnótica consiste no fechamento dos olhos, para logo, relaxamento do corpo e dissociação do escritório para o campo de beisebol.
As seguintes sugestões foram feitas, após a criança ter entrado em estado hipnótico:
Visita 1: “Visualize a sua abordagem para rebater, como vimos no vídeo. Lembre-se de como suas mãos estavam posicionadas. Agora, veja suas mãos ficarem imóveis e no nível do peito, até que você esteja pronto para girar (modificações a e b). Ensaie isso em sua mente, mais e mais, até que eu indique para você parar. Comece o ensaio lentamente e acelere as imagens, à medida que você se torna melhor nisso. Continue o ensaio até que se torne automático. A criança foi instruída a entrar em auto-hipnose e praticar em casa, duas vezes por dia, os elementos desta sessão.”
Visita 2: “Visualize a sua abordagem para rebater, como vimos no vídeo. Lembre-se de como seus quadris e pernas estavam nesse movimento. Agora veja seus quadris começarem o giro para gerar a velocidade de morcego. Também transfira o peso de uma perna para outra durante o giro (modificações c e d). Ensaie isso em sua mente, mais e mais, até que eu indique para você parar. Comece o ensaio lentamente e acelere as imagens, à medida que você se torna melhor nisso. Continue o ensaio até tornar-se automático. A criança foi instruída a entrar em auto-hipnose e praticar em casa, duas vezes por dia, os elementos desta sessão.”
Visita 3: “Visualize a sua abordagem para rebater, como vimos no vídeo. Lembre-se de como era o seu giro. Agora veja-se girar em um ângulo mais descendente. Também, encurtar o giro e encontrar a bola mais cedo. Complete o giro e siga em frente. Ensaie isso em sua mente, mais e mais, até que eu indique para você parar (modificações f, g e h). Comece o ensaio lentamente e acelere as imagens, à medida que você se torna melhor nisso. Continue o ensaio até tornar-se automático. Siga a bola com os olhos, até que o taco a acerte (modificação e).”
Visita 4: “Visualize a sua abordagem para rebater, como vimos no vídeo. Lembre-se de como era o seu giro. Agora veja-se girando o bastão, com todas as sugestões que o seu instrutor fez e que você praticou em sua mente. Ensaie isso em sua mente, mais e mais, até que eu indique para você parar. Comece o ensaio lentamente e acelere as imagens, à medida que você se torna melhor nisso. Continue o ensaio até tornar-se automático. Siga a bola com os olhos, até que o bastão a atinja.”
Objetivos e resultados
As expectativas eram que o garoto se tornasse mais produtivo, para ser incluído no time titular de sua equipe.
Embora as estatísticas de desempenho (médias de rebatidas) não sejam mantidas pela liga, nessa faixa etária, o desempenho do garoto melhorou o suficiente, na opinião de seu técnico, para ganhar uma posição inicial na equipe.
Acompanhamento
O acompanhamento por telefone foi realizado durante 3 meses.
O pai telefonou duas vezes e relatou que o desempenho produtivo de seu filho, na base, estava diretamente relacionado à posição do menino como titular da equipe.
Discussão
Empregamos este modelo com 6 crianças, com resultados semelhantes. Os benefícios obtidos permitiram a essas crianças a oportunidade de estarem nas escalação inicial de suas respectivas equipes.
Esta foi a medida de desfecho usada para avaliar a eficácia do modelo, como estatísticas individuais não são mantidas neste nível de jogo. No entanto, os resultados e a modelo de eficácia devem ser considerados como preliminar, uma vez que o modelo não foi empiricamente validado.
Há vários elementos que poderiam ter contribuído para as melhorias que as crianças demonstraram, incluindo fatores de maturação e os efeitos do treinamento e de instruções contínuas.
Hipnose no esporte: resolvendo experiências traumáticas no atletismo
A hipnose no esporte possui um legado substancial no tratamento de sintomas (tanto psicológicos quanto psicossomáticos), secundária a uma experiência traumática no atletismo.
O uso da hipnose para tratar sintomas psiquiátricos no exercício de uma atividade esportiva foi relatado por Morgan (1995) em um artigo focado em ansiedade e pânico, em mergulhadores.
Além disso, Morton (2003) contribuiu com um relato autobiográfico sobre a eficácia da hipnose para lidar com múltiplos desafios relacionados a ela retornar ao sucesso do alpinismo, após uma queda quase catastrófica. O autor relatou o uso da hipnose no esporte para a cura física e para superar os sintomas de transtorno de estresse pós-traumático que surgiram como resultado do acidente.
Embora a taxa de lesões no beisebol infantil são baixas, e apesar do fato de que este esporte seja considerado seguro, as estatísticas sugerem que crianças apresentam lesões e traumas. Yen e Metzl (2000) reconheceram que o campeonato infantil é uma atividade segura, mas insistiram que esse fato não exclui a realidade de que há mais de 100.000 lesões agudas de beisebol por ano, na faixa etária de 5 a 14 anos, nos Estados Unidos.
Pasternack, Veenema, & Callahan (1996), com base nos resultados de uma investigação de relatórios médicos, em uma amostra de 2861 jogadores de beisebol infantil (entre 7 e 18 anos), concluiu que o meio mais freqüente de lesão era ser atingido pela bola. Este modo de lesão representou 62% das lesões agudas.
Em certos casos, as lesões médicas da liga infantil descritas por Pasternack, Veenema, & Callahan (1996) e Yen & Metzl (2000) dizem respeito a compensações psicológicas e/ou mecanismos de defesa que a criança acaba por desenvolver. Estes compensatórios e hábitos defensivos involuntários são, mais frequentemente do que não, prejudiciais para o desempenho do atleta.
Conceituamos e formulamos esses casos sob uma perspectiva psicopatológica. E como tal, considerá-los casos de psicoterapia. Nossa abordagem consiste em uma primeira visita de diagnóstico, onde é verificada a história completa. Incluindo a relato integral da criança sobre o acidente. Os métodos de tratamento são discutidos com os pais e a criança. Também definimos e refutamos os equívocos sobre a hipnose.
O tratamento é espaçado em cinco horas visitas semanais. Nossos métodos de tratamento na hipnose no esporte incluem o fortalecimento do ego (Hartland, 1965, 1971; Stanton, 1989; Torem, 1990), ensaio mental (Appel, 1992) e progressão de idade (Frederick e Phillips, 1992; Phillips e Frederick, 1992). Nós também empregamos a narrativa do trauma hipnótico (Iglesias & Iglesias, 2005/2006).
Com base no trabalho de Frederick e Phillips (1992), as principais intervenções que empregamos baseiam-se no princípio da progressão da idade como uma técnica de fortalecimento do ego.
O conceito de progressão da idade e todas as técnicas que apresentam essa orientação são projetadas para atuar como um antídoto para as expectativas de fracasso do paciente (Frederick e Phillips, 1992). Além disso, as técnicas de progressão da idade contribuem para o aprimoramento e fortalecimento das estruturas do ego do indivíduo (Hartland, 1965, 1971; Stanton, 1989; Torem (1990). Phillips e Frederick (1992) elaboraram esse ponto e acrescentaram:
quando um indivíduo alcança visão positiva do futuro, em um estado hipnótico, ele já está vendo um ego que foi positivamente reforçado no espelho da mente.
Nossa abordagem tem forte ênfase no ensaio mental, definido como:
ensaio simbólico de uma atividade física sem nenhum movimento muscular grosseiro
para facilitar a aquisição de habilidades e aumentar o desempenho na produção dessa atividade física (Appel, 1992).
A narrativa do trauma hipnótico (Iglesias & Iglesias, 2005/2006) é considerado uma pedra angular do nosso modelo, pois permite que as imagens obsessivas associadas ao trauma recuem para o fundo. E que se tornem cada vez menos nítidas, até que não o sejam mais.
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Para saber mais sobre o lado científico da hipnose, leia: Hipnose reduz ansiedade pré-operatória em pacientes adultos.