As histórias da hipnose e psicanálise muitas vezes se confundem. Isso pode ser explicado pelo fato de Freud, criador da psicanálise, ter usado a hipnose em tratamentos. Além disso, ambas entendem que os sofrimentos sentidos pelas pessoas são consequentes de uma energia psíquica reprimida. Essa energia, por sua vez, existe para evitar uma lembrança traumática.
Dessa forma, o sintoma seria um mecanismo de defesa que protege o indivíduo de seus traumas e lembranças ruins. Assim, quando a pessoa procura a hipnose e psicanálise, no geral, aponta uma queixa que traz sofrimento.
A hipnose e psicanálise podem tratar os problemas, mas cada uma delas de sua forma. Conheça a história e algumas diferenças entre elas.
Relação da hipnose e psicanálise na história
O trabalho de Freud, no início, teve muita influência do médico Breuer. Além disso, teve base nos dados de Charcot, que em seus estudos sobre a hipnose, propôs uma teoria para a histeria. Assim como ele, Breuer também fazia uso da hipnose nos tratamentos oferecidos a pacientes histéricas. Com o uso da técnica, notou que após elas narrarem e reviverem os traumas vividos, melhoraram.
Dessa forma, a descoberta que foi feita por Breuer durante sessões de hipnoses influenciou a teoria do inconsciente criada por Freud. Afinal, em sua experiência, o médico relatou que, por meio desse processo, a paciente passava a conhecer a sua realidade interna. Assim, para obter esse resultado, Breuer usava a hipnose por sugestão e essa mesma técnica foi adotada por Freud.
Porém, com o tempo Freud deixou de usar a hipnose e adotou a associação livre. Nessa técnica, o paciente fala sobre o que pensa e sente, quando as ideias chegam em sua cabeça. Para ele, essa técnica auxilia o paciente a recordar e acessar lembranças guardadas no inconsciente sem o uso da hipnose. Atualmente, a associação livre é a base do tratamento psicanalítico.
Durante o tratamento, o psicanalista ajuda o cliente a alcançar o conteúdo reprimido. Do outro lado, o paciente consegue ressignificar seus conflitos internos, de forma que fique livre do que antes causava sofrimento.
Conceitos básicos da psicanálise
Conheça alguns conceitos básicos usados na psicanálise e, muitas vezes, também na hipnose.
Inconsciente
É onde ficam guardadas algumas ideias reprimidas, que aparecem como sintomas neuróticos ou sonhos.
Ego
A parte do psíquico que tem contato com a realidade. É organizada e auxilia na adaptação. Além disso, funciona como mediador de impulsos instintivos.
Superego
Tem o papel de vigilante e é formado como consequência da identificação com os pais. Assimila proibições e ordens. Controla impulsos.
Sonhos
Acesso ao inconsciente. Por isso, a interpretação dos sonhos revela percepções e desejos que só são capazes de chegar à consciência pelo sonho.
A relação entre hipnose e psicanálise
Na hipnose, o cliente é colocado em um estágio de consciência diferente, de forma que aceite sugestões tranquilamente. Enquanto isso, na psicanálise é usada a associação livre. Nela, sem alterar o estágio de consciência, o cliente é incentivado a falar o que vier à cabeça.
Embora a abordagem terapêutica seja diferente, as duas técnicas podem auxiliar no tratamento médico de problemas como:
Além disso, ambas trabalham a mente, em busca de libertar o subconsciente de lembranças traumáticas.
A psicanálise e o surgimento da neurociência
A psicanálise, por vezes, se confunde com a própria psicologia, de tão necessária que é e de tão usada que se tornou. Focada em ajudar as pessoas a encontrarem a origem de problemas emocionais e tratá-los, segue em constante avanço.
Afinal, depois de Freud vieram diversos psicanalistas, que dedicaram o seu tempo a estudar e aprimorar o uso da Psicanálise. Dentre eles, nomes como, por exemplo:
- Melanie Klein;
- Winnicott;
- Bion;
- André Green;
- Jacques Lacan.
- Françoise Dolto;
- Serge André;
- J-D Nasio e Jacques-Alain Miller.
Além dessa evolução da própria psicanálise, é preciso considerar também os avanços trazidos pela neurociência. De forma bem simples, é possível dizer que essa é a parte que busca descobrir como funciona o sistema nervoso e como ele se comporta frente aos desafios da vida.
Uma vez que isso seja conhecido, é possível fazer adequações, por exemplo, na hora de ensinar, para que a criança aproveite mais as aulas. Além disso, a neurociência também é importante para o desenvolvimento de doenças relacionadas ao sistema nervoso.
Enfim, são inúmeras as aplicações da neurociência. E, embora não haja uma unanimidade entre os especialistas, que por vezes enxergam a neurociência e a psicanálise como antagônicas, o fato é que ambas podem atuar ajudando a evitar ou minimizar o sofrimento psíquico.
Importância dessa junção
A importância disso é praticamente indiscutível, visto que uma pesquisa recente, realizada pela Vittude, sugere que 86% dos brasileiros sofrem com algum transtorno mental. Dentre esses indivíduos:
- 37% têm estresse extremamente severo;
- 59% estão deprimidos;
- 63% desenvolveram um quadro de ansiedade extremamente severo.
Já um estudo Megacity em São Paulo concluiu que aproximadamente 30% da população possui um transtorno psiquiátrico crônico. No entanto, apenas 14% dessas pessoas receberam tratamento.
Por isso, assim como acontece com a hipnose e psicanálise, a tendência é que a neurociência e a psicanálise venham a se completar. Afinal, ambas poderão ajudar a dar mais qualidade de vida a esse grupo de mais de 80% da população.
Dessa forma, há uma propensão de criar a neuropsicanálise, ou seja, um grupo focado em estudar a neurociência e a psicanálise de forma conjunta. E assim, somar esforços para encontrar soluções e caminhos mais adequados para os transtornos mentais.
Seja com a hipnose e psicanálise ou com a aplicação dos conhecimentos da neurociência, é fato que assim como qualquer tratamento médico, é preciso seguir o código de ética ao tratar uma pessoa. Conheça a ética na hipnoterapia e descubra quais as principais questões na prática clínica.