Vários estudos indicam que muitos pacientes adultos que ficarão sob anestesia e cirurgia apresentam ansiedade e angústia. Tanto na véspera (pré-operatória), quanto no dia do procedimento. Esse sentimento é perfeitamente normal. Por outro lado, se forem muito intensos, pode influenciar na saúde do paciente. Desse modo, procurar por ajuda pode ser uma opção.
Atualmente, milhões de americanos usam rotineiramente terapias complementares e alternativas, como acupuntura, ervas e até a hipnose.
Dada a crescente popularidade da medicina complementar e alternativa, associado à necessidade de desenvolver novas intervenções ansiolíticas pré-operatórias, foi realizado um estudo randomizado de atenção controlada.
Neste artigo vamos apresentar o estudo dos impactos da hipnose no controle da ansiedade pré-operatório. Continue lendo e confira!
Um estudo de atenção controlada
O estudo que vamos mostrar teve o intuito de avaliar a eficácia da hipnose como uma modalidade de tratamento para o tratamento da ansiedade pré-operatória.
O leitor deve notar que o estudo foi destinado apenas para medir o impacto da hipnose na ansiedade antes da cirurgia. E não os efeitos da hipnose em requisitos anestésicos ou resultados pós-operatórios.
Métodos
Os sujeitos foram submetidos a procedimentos cirúrgicos ambulatoriais, de 18 a 65 anos e estado físico ASA I-III¹ foram inscritos no estudo.
Todos os indivíduos que estavam tomando algum medicamento psicotrópico, haviam usado hipnose no passado, ou tinham histórico de distúrbios afetivos foram excluídos deste estudo controlado e com controle rotineiro.
Com base em um número aleatório gerado por computador, todos os indivíduos foram randomizados em três grupos: hipnose, controle de atenção ou controle.
O estado hipnótico foi introduzido usando uma abordagem permissiva, como descrita anteriormente por Erickson. Resumidamente, o hipnoterapeuta instruiu os sujeitos a focar suas atenções em um objeto ou uma memória.
A fase de sugestão foi caracterizada pela introdução de objetivos positivos específicos de ansiedade, redução do medo e relaxamento. Os sujeitos foram informados durante a fase sugerida de que continuassem a sentir-se relaxados e calmos durante o período perioperatório.
No final da fase de sugestão, o hipnoterapeuta instruiu o sujeito a restabelecer o contato com o ambiente. Esta última ação é planejada para que o sujeito possa restaurar a consciência dentro de alguns segundos. A intervenção hipnótica durou 30 minutos.
Discussão
Nas condições deste estudo, descobrimos que a hipnose reduz drasticamente a ansiedade dos pacientes submetidos à cirurgia ambulatorial. Vários relatos anteriores descreveram o uso de hipnose no ambiente perioperatório.
Entretanto, a maioria dos estudos anteriores é inválida devido a questões relacionadas ao viés de seleção, falta de randomização, falta de intervenção padronizada, amostra pequena. tamanho, falta de resultados objetivos, e falta de um grupo de controle de controle de atenção.
Este estudo atual considerou as limitações dos estudos anteriores. Ou seja, usamos um estudo randomizado controlado. Cegamos os pesquisadores que recrutaram os pacientes e avaliamos as medidas de desfechos com boas propriedades psicométricas.
Além disso, usamos um grupo de controle de atenção que foi administrado por um assistente de pesquisa. O conceito de um grupo de controle de atenção, embora não seja usado com frequência em pesquisas de anestesia, é fortemente recomendado quando se estuda uma intervenção comportamental que pode ser moderada por um efeito placebo.
De fato, Bootzin indicou que o propósito de um grupo de controle de atenção é “testar a hipótese rival de que melhorias na variável dependente ocorrem por causa da expectativa do participante e da atenção recebida durante o tratamento e não do próprio tratamento”.
Em conclusão, mostramos que uma sessão de hipnose pré-operatória é muito eficiente na redução da ansiedade e do medo antes da cirurgia.
Estudos futuros são necessários para determinar o impacto da hipnose em variáveis como a necessidade de anestesia intra operatória, dor pós-operatória, náusea e vômito.
Hipnose pré-operatória como solução anestésico
A hipnose é definida como um estado de atenção focada com maior receptividade para abordagens aceitáveis.
Nesse estado, a natureza crítica ou cética de uma pessoa é contornada, o que permite que ela aceite as sugestões.
A hipnose consiste em uma indução, que leva o paciente ao estado de transe e, em seguida, a entrega de sugestões aceitáveis. Estas, que são entregues ao paciente, para ajudar a alcançar os objetivos da sessão.
Desse modo, ela pode ser utilizada como um tratamento alternativo ou até mesmo complementar anestésico. Ao mesmo tempo que existem diversos tipos de medicamentos para a dor. Muitas pessoas procuram por alternativas, como a hipnose, para controlar a dor. Seja antes, durante ou depois de processos operatórios.
Neste caso, ao contrário do estudo acima, a intenção não é reduzir ansiedade, mas sim controlar os estímulos do cérebro da percepção da dor. Da mesma maneira, muitos médicos e dentistas, se beneficiam dessa técnica em seus consultórios. Afinal, a medicina é muito beneficiada pela hipnose e pode ser aplicada em qualquer tipo de paciente.
A atuação da serotonina
Estudos sobre a eficácia da hipnose, destacam a capacidade de aumentar a produção de neurotransmissores, como a serotonina. Esse, que é o hormônio responsável pelo bem estar e sensação de felicidade.
Quando em estado hipnótico, o paciente fica mais centrado em seu bem estar. Desse modo, o cérebro inibe a percepção de dor. Logo, a sensação boa supera os sentimentos de dor, assim como um anestésico.
Posteriormente, o uso da hipnose para inibir a dor, pode ser empregada nos mais variados âmbitos da medicina. Como os pacientes com dor do membro fantasma, em muitos casos buscam pela hipnose. Essa síndrome provoca dores e sensações em membros que foram amputados. Por ser uma dor mental e não física, a hipnose ajuda o cérebro a entender isso e acabar com as dores.
Hipnose como solução para outros tipos de ansiedade
O uso da hipnose no tratamento da ansiedade não é apenas nos procedimentos cirúrgicos. Outros tipos de ansiedades também podem ser tratadas com a técnica, como o estresse, o cansaço mental, a depressão e outros.
Quem trabalha todos os dias, tem uma rotina cheia e cheia de compromissos está mais propício ao estresse. O que pode desencadear até mesmo outros distúrbios de saúde. Por outro lado, a hipnose, com um hipnoterapeuta, ou até mesmo a auto hipnose, podem ajudar a aliviar o estresse.
As técnicas são parecidas com o uso para aliviar a ansiedade pré-operatória, porém, o foco é em coisas rotineiras que geram essa ansiedade. Enquanto a ansiedade cirúrgica acontece por conta de um evento específico e com data marcada.
Ainda assim, o paciente em ambos casos é induzido a ter sensações de alívio e relaxamento profundo, quando se encontra nas situações que geram a sua ansiedade.
Por outro lado, no caso do tratamento para a depressão, o paciente não é induzido apenas ao relaxamento profundo. São trabalhados os sentimentos de bem estar, felicidade e alívio de angústias, parecido com o que é feito para controlar a dor. Porém no lugar de anestesiar o que a pessoa deprimida sente, o objetivo é entender por que ela se sente deprimida. E assim, conseguir tratar sua doença.
Em síntese, a hipnose pode ser trabalhada em todas as vertentes que envolvem a ansiedade. Sejam elas cirúrgicas ou não. Para entender e se aprofundar no assunto, leia o artigo: como se livrar da crise de ansiedade. Boa leitura!
Extra:
¹ Classificação ASA – American Society of Anesthesiologist
- ASA I: I – sem alterações fisiológicas ou orgânicas, processo patológico responsável pela cirurgia não causa problemas sistêmicos.
- ASA II: alteração sistêmica leve ou moderada relacionada com patologia cirúrgica ou enfermidade geral.
- ASA III: alteração sistêmica intensa relacionado com patologia cirúrgica ou enfermidade geral
Fonte:
- Artigo científico traduzido e adaptado de Hypnosis Reduces Preoperative Anxiety in Adult Patient.
- Haleh Saadat, MD; Jacqueline Drummond-Lewis, MD; Inna Maranets, MD; Deborah Kaplan, Anusha Saadat, Shu-Ming Wang, MD; e Zeev N. Kain, MD
-
Center for the Advancement of Perioperative Health, Departments of Anesthesiology, Pediatrics, and Child Psychiatry. Yale University School of Medicine. New Haven, EUA.