O que é e como fazer auto-hipnose?

Você quer aprender como controlar pensamentos intrusivos, mudar hábitos indesejados e melhorar sua saúde emocional com ajuda da auto-hipnose?

Continue lendo esse artigo e veja como as descobertas científicas no campo da hipnoterapia podem ajudar você a desenvolver todo o potencial da sua mente!

Qual é o objetivo da hipnose?

A hipnose é um fenômeno relativamente simples, porém, há divergências em sua definição. Existem duas teorias principais que explicam a Hipnose: as Teorias de Estado e Não Estado.

A Teoria de Estado pressupõe uma alteração legítima no sistema neurofisiológico da pessoa hipnotizada. Ou seja, a existência de um “transe hipnótico” que pode ser observado por meio de alterações nas ondas cerebrais.

Já na Teoria de Não Estado, a hipnose é vista como um fenômeno comportamental. Não exige necessariamente alterações nas ondas cerebrais para comprovar que a pessoa está realmente hipnotizada. Em resumo, ela diz que o engajamento do sujeito e a concentração que ele exerce sobre sua imaginação é que resulta na hipnose. 

Este artigo que você está lendo faz uma abordagem da hipnose pela teoria do Não Estado. Antes de continuarmos, vale deixar bem claro que a hipnose não é:

  • ter o controle da mente;
  • fazer uma lavagem cerebral;
  • sinônimo de sono;
  • estado de inconsciência;
  • fenômeno místico.

Trata-se, unicamente, de um estado de atenção altamente focada, com sugestibilidade aumentada. Ou seja, ficamos mais suscetíveis a acatar sugestões.

Qual a relação entre hipnose e ciência?

A relação entre hipnose e ciência não é de hoje e ao longo da história passou por uma verdadeira saga. Em 1037 D.C, o médico e filósofo árabe Avicena citou em uma de suas obras a diferença entre o transe hipnótico e o sono normal. Como os seus livros foram considerados como “bíblias” da medicina por mais de 600 anos, ele ajudou a difundir a existência e a importância da técnica. 

Outro fato importante ocorreu em 1840, quando James Esdaile, um médico escocês, realizou várias cirurgias sem usar nenhum anestésico. Ele apenas aplicou a técnica de hipnose em seus procedimentos. 

Embora o fascínio científico pela hipnose seja antigo, novos estudos foram feitos nas últimas décadas, o que fortaleceu a ligação entre hipnose e ciência. O aval definitivo foi dado em 1998, quando o psiquiatra Henry Szechtman¹ provocou alucinação auditiva enquanto o neurologista Pierre Ranville² fez voluntários colocarem as mãos em água fervendo. Desde então, dezenas de pesquisas identificam outras áreas afetadas pela hipnose.

O que é auto-hipnose?

Quando o terapeuta induz alguém à hipnose, isso é chamado de hétero-hipnose ou hipnoterapia. Mas, quando a técnica é realizada sem auxílio de terceiros, ou seja, autoinduzida, chamamos o processo de auto-hipnose.

O hipnotista James Tripp, um dos maiores espetas em Hipnose Conversacional do mundo, costuma definir a hipnose da seguinte maneira: 

“A hipnose é o engajamento das crenças e da imaginação de uma pessoa, ao criarmos para elas uma realidade subjetiva alterada.”

Uma definição mais simplificada e que melhor explica os benefícios da auto-hipnose é: A utilização da linguagem para a alteração da realidade. 

A PNL (Programação Neurolinguística) diz que “percepção é realidade”. Ou seja, não vemos a realidade como ela é, mas como nós percebemos

Como é a sua realidade atualmente? Você vive ansioso? Angustiado? Se sente incapaz de manter o foco e alcançar os seus objetivos? A auto hipnose se apresenta como uma ferramenta para alterar sua percepção da realidade. Assim, pode fazer você superar fobias, vícios, traumas e aprender a lidar com a ansiedade e o estresse, de forma positiva.

Como funciona a auto-hipnose?

Caso se auto-hipnotizar seja uma novidade para você, com certeza está passando pela sua cabeça algumas dúvidas de como fazer auto-hipnose.

Mas, antes de falarmos sobre isso, é bom que entenda como o processo da hipnoterapia funciona.

A hipnoterapia é o uso da hipnose associada a alguma técnica terapêutica. Geralmente, essa técnica a ser associada a hipnose é alguma técnica da própria psicologia. No entanto, alguns hipnoterapeutas também associam a hipnose a outras técnicas, como PNL ou até mesmo práticas holísticas. 

Estabelecida essa relação entre a hipnose e alguma técnica terapêutica, é possível alterar a forma como o cérebro interpreta determinadas experiências, alterando percepções, pensamentos, comportamentos e até sentimentos.

Nas teorias de “não estado”, entendemos o chamado transe hipnótico como a experiência subjetiva de se estar participando do processo de hipnose. Quando estamos na experiência do transe hipnótico, aumentamos nosso engajamento em relação a mudança. Ou seja, paramos de focar apenas nos problemas e redirecionamos a nossa atenção na direção da solução. Esse redirecionamento permite que pensamentos negativos, crenças limitantes ou até mesmo memórias sejam ressignificadas.

Ou seja, não tem nada de milagre ou truque de mágica. O grande segredo da hipnose é a sugestão. Todo ser humano é sugestionável e, por isso, a técnica funciona com eficácia. Obviamente, nem todas as pessoas respondem a todas as sugestões da mesma maneira. Mas, em alguma medida, toda pessoa é hipnotizável e pode passar pelos processos de hipnose e auto-hipnose. 

A técnica da auto-hipnose

Aprender a se auto hipnotizar não é uma tarefa extremamente difícil. Entretanto, é preciso estar totalmente focado, ter dedicação e disciplina, e estar aberto (a) a participar da experiência e entrar em transe hipnótico. Um lugar silencioso, confortável e livre de qualquer interrupção também é muito importante.

Bem como, técnicas de relaxamento e respiração são fundamentais para que o corpo e mente consigam se livrar de intervenções externas e para que você consiga se conectar consigo mesmo. A partir daí é possível se conectar com sua mente e enviar sugestões, guiando a mudança de comportamento.

Aqui vou apresentar o passo-a-passo básico de qualquer curso de hipnose, para estabelecer ligação direta e profunda com a sua mente.

1. Preparação

Sente em um local confortável – não é recomendado ficar deitado, pois com o corpo em profundo relaxamento, a probabilidade de dormir é alta.

Concentre-se em respirar profundamente e, sem esticar a cabeça para trás, desvie seu olhar para o teto e fixe um ponto de referência. Concentre-se neste ponto, inspire de forma profunda, segure o ar por alguns segundos e solte lentamente.

Enquanto isso, repita em sua mente: “estou com os olhos cansados e a mente pesada, estou entrando em hipnose neste momento”. Faça isso algumas vezes de forma suave, porém, firme e convincente. Logo, você entrará em estado hipnótico e seus olhos vão ficar pesados e cansados.

2. Relaxamento

Fuja do mundo externo e permita-se permanecer em total relaxamento. Solte bem o seu corpo e faça uma contagem mental regressiva de 5 a 0. Repita a contagem e fale para si que a cada vez que contar você vai ficar mais relaxado.

Nessa fase o corpo está pronto para o sugestionamento. Esse é o momento de enviar sugestões para a mente, usando frases otimistas que visam a mudança de comportamento ou até mesmo visualizar mentalmente seus objetivos e processos de mudança. Esse é o ponto crucial que vai guiar importantes conquistas. Faça sugestões positivas e visualize-as, até que a mente entenda o recado e possa sair do estado hipnótico.

3. Finalização

Quando desejar sair do estado hipnótico, conte de 1 a 5 algumas vezes e fale para si que está retomando a consciência de tudo o que há ao seu redor. Com calma, abra os olhos, estique os braços e pernas e respire profundamente.

É possível que o raciocínio fique um pouco mais lento e haja sonolência ao terminar a técnica, mas são sensações que passam rapidamente.

Homem abre os olhos após finalizar a sessão de auto-hipnose.
Preparação, relaxamento e finalização. Essas são as 3 etapas da auto-hipnose.

Quem pode ser hipnotizado?

Para muitas pessoas, principalmente as que não entendem o que é hipnose e não conhecem os seus benefícios, ser rotulada de “facilmente hipnotizável” é uma ofensa.

Elas acreditam, pela falta de esclarecimento, que ser suscetível à hipnose significa fraqueza psicológica. Mas é exatamente o contrário!

Uma pessoa hipnotizada continua no controle de suas faculdades mentais. Porém, a diferença é que sua concentração e imaginação estão tão elevadas que elas encontram uma maior facilidade para modificar seus pensamentos e comportamentos.

Por exemplo, um fumante hipnotizado pode conseguir parar de fumar mais facilmente do que um fumante que tenta parar de fumar, sem ajuda da hipnose.

Como a pessoa fica quando está hipnotizada?

Cada pessoa reage de uma forma diferente à hipnoterapia. Algumas descrevem a hipnose como um estado de atenção concentrada, enquanto outras alegam apenas um estado de extrema calma e relaxamento. Mas, em geral, a maioria descreve a experiência como agradável.

E é importante frisar aqui que a pessoa hipnotizada não dorme ou fica inconsciente. Esse é um dos grandes mitos que cercam a técnica da hipnose. Durante todo o transe somos capazes de perceber o que se passa à nossa volta. E os reflexos estão bem presentes, o que não acontece em estado de sono.

Essa confusão se deve muito ao fato de que a palavra hipnose é derivada do grego “hypnos”, que significa sono. Dessa forma, quando estamos hipnotizados permanecemos:

  • conscientes;
  • com controle das nossas ações;
  • em estado natural e inofensivo;
  • com capacidade de sair do estado hipnótico quando assim o desejarmos.
Concentrada, mulher está sentada em uma cadeira de olhos fechados
E é importante frisar aqui que a pessoa hipnotizada não dorme ou fica inconsciente. Esse é um dos grandes mitos que cercam a técnica da hipnose.

A suscetibilidade hipnótica

Por muito tempo, a ciência acreditou que a suscetibilidade hipnótica fosse um traço da personalidade do indivíduo. E portanto, que não poderia ser modificada. 

Isso quer dizer que apenas algumas pessoas poderiam transformar suas vidas por meio da hipnose porque haviam nascido com essa habilidade.

Entretanto, no ano de 1987, surgiu uma nova pesquisa que mudaria para sempre os rumos da hipnose no mundo. No respectivo ano, o pesquisador Campbell Perry descobriu³ que era possível alterarmos nossa suscetibilidade à hipnose. 

É possível treinar o cérebro para ser hipnotizado?

Nessa pesquisa, Perry estudou tudo que já havia sido publicado sobre o tema e fez o seguinte questionamento: “Seria possível melhorar as nossas habilidades de entrar em hipnose e de responder a sugestões?”

Em seu estudo, ele descobriu um problema metodológico em todos os artigos científicos sobre suscetibilidade hipnótica que haviam sido publicados até então. Quando as pessoas entravam em treinamentos de auto-hipnose ou hipnose, simplesmente repetiam exercícios.

No entanto, o que Perry descobriu é que a hipnose requer que o voluntário participe ativamente do processo.

Posteriormente, os pesquisadores Nicholas Spanos e Donald Gorassini⁴ criaram um protocolo de treinamento de auto-hipnose chamado CSTP – Carleton Skills Training program. Esse treinamento conseguiu comprovadamente melhorar a suscetibilidade à hipnose de seus participantes.

Hipnose requer uma mudança de atitude!

Antigamente, achava-se que a suscetibilidade à hipnose era inata e não modificável. No entanto, como já vimos anteriormente, a hipnose requer uma participação contínua da pessoa a ser hipnotizada durante o processo. Naquela época, simplesmente mediam a suscetibilidade de cada pessoa e, após algum tempo, mediam novamente. Em geral, não tinham muitas diferenças entre as duas avaliações e, por isso, os pesquisadores acabavam chegando a conclusão de que a suscetibilidade a hipnose não seria uma habilidade treinável. No entanto, essa conclusão é bem absurda.

É como se eu aplicasse uma prova de matemática a alguém que não sabe nada de matemática. Logicamente, essa pessoa iria tirar zero nessa prova. Se após alguns anos eu aplicar essa mesma prova novamente e essa pessoa continuar sem saber matemática, é claro que ela vai tirar zero novamente. Mas isso não significa que essa pessoa não poderia aprender matemática.

Foco no objetivo!

Se o treinamento de auto-hipnose não trabalhar variáveis importantes como o engajamento e a vontade de ser hipnotizado, é claro que a avaliação da suscetibilidade sempre será a mesma. É nesse contexto que vão surgir os treinamentos sociocognitivos para melhorar a performance hipnótica das pessoas. É um processo orientado a um determinado objetivo/propósito. Ou seja, de acordo com esta perspectiva, a hipnose não envolve a entrada em um “estado alterado de consciência”, chamado de transe.

Na verdade, a hipnose aconteceria porque o voluntário deseja atingir um objetivo. Sabendo que aquele objetivo depende de um tipo de atitude, ele passa a desempenhar todo o comportamento esperado.

O voluntário que vai participar do processo hipnótico precisa ter a intenção de ser um bom sujeito em hipnose. Mais que isso, a intenção de desempenhar um comportamento compatível com alguém que deseja entrar em “transe”.

Nesse sentido, Campbell, Spanos e Gorassini compreenderam que o bom desempenho em hipnose e/ou auto-hipnose depende, principalmente, do que o voluntário pensa sobre hipnose. Além disso, leva-se em conta qual é a sua atitude durante todo o processo.

Como se preparar para a auto-hipnose?

A primeira coisa para se preparar é entender que a auto-hipnose é dependente da nossa força de vontade. Portanto, para entrar em transe hipnótico, é essencial não ter medo, ter foco e estar disposto (a) a se deixar relaxar.

Outra preparação fundamental é definir metas que deseja alcançar com a auto-hipnose. Ao defini-las, escreva as sugestões hipnóticas que vai dizer à sua mente quando estiver em transe. Quanto mais específicas e realistas forem suas sugestões hipnóticas, maiores as chances de obter sucesso.

Outras dicas que também são importantes:

  • escolher um horário apropriado e um lugar calmo e silencioso, quando e onde não haja interrupções externas;
  • evitar praticar após um dia muito cansativo, pois aumentam as chances de cair no sono – uma maneira de evitar isso é praticar a hipnose de pé;
  • é recomendado não fazer uma refeição muito pesada antes de praticar a auto-hipnose;
  • vestir roupas confortáveis e, de preferência, sem sapatos.

A sugestão hipnótica

O momento das sugestões hipnóticas é um dos mais importantes de todo o processo hipnótico, pois é por meio delas que conseguimos alcançar os objetivos estabelecidos na preparação.

Essas sugestões nada mais são do que frases sugestivas ditas, silenciosamente, para si mesmo durante o processo hipnótico ou visualizações envolvendo os objetivos estabelecidos na preparação. O objetivo é redirecionar a sua atenção durante o processo. Ou seja, sua atenção vai sair dos problemas e vai ser direcionada para seus objetivos.  

Durante a hipnose, em vez de nossa mente ficar focada nos problemas, ela fica focada nas soluções.   Essa é a grande diferença das sugestões hipnóticas para uma sugestão qualquer.  

Mas, para obter um resultado real, é preciso adotar uma postura totalmente positiva e, quando possível, substitutiva.

Por isso é fundamental evitar expressões negativas como: “não quero mais fumar” ou “não quero mais comer doce. Nesses casos, seu cérebro desconsidera a palavra negativa e interpreta apenas o comando seguinte que, na verdade, é o que você quer evitar.

Então, use suas sugestões focadas no que realmente quer: “praticar esportes”, “comer comida saudável” ou “beber mais água, por exemplo.

E, sempre que fizer tais afirmações, busque visualizar cenas nas quais o que você propôs já esteja acontecendo!

Quais são as vantagens da auto-hipnose?

Quando aprendemos a nos auto-hipnotizar, somos capazes de enfrentar, sozinhos, situações que poderiam causar sofrimento ou dificuldades.

Mas esse não é o único benefício da auto-hipnose no dia a dia. A técnica também nos ajuda a potencializar nossas habilidades e eliminar comportamentos prejudiciais, além de permitir:

  • multiplicar o magnetismo pessoal (ou seja, o poder de persuasão e influência);
  • vencer com a timidez;
  • potencializar a atenção, a concentração e a memória;
  • vencer a fadiga e o cansaço mental;
  • aumentar a autoestima;
  • programar a mente com mais eficácia, entre outras vantagens.

O que acontece é que quando se está em transe hipnótico, a mente se expande e fica isenta de preconceitos ou temores, fatores que nos impedem de vivenciar melhores ou novas experiências.

Ao sair desse estado, os novos comandos permanecem ativos na mente e, por isso, é possível alcançar esses benefícios. Entretanto, vale a pena frisar que para isso é preciso dedicação e disciplina.

A auto-hipnose para melhorar a concentração

Com a hipnoterapia, é possível ser uma pessoa mais concentrada, focada e alcançar de forma mais simples seus objetivos.

Quem busca melhorar a concentração, em qualquer que seja a tarefa ou atividade, deve usar algumas sugestões hipnóticas voltadas para esse objetivo. Como, por exemplo:

  • ““Eu vou aprender muito durante os meus estudos hoje.”
  • “Estou tendo ótimos resultados no meu aprendizado.”
  • “Vou conseguir terminar minha apresentação.”

Quando repetidos algumas vezes no estado de transe, esses sugestionamentos são assimilados pela mente e os resultados aparecem rapidamente.

A auto-hipnose para melhorar a memória

A dificuldade de memorização ou para se lembrar de algo pode estar ligado às nossas crenças limitantes ou problemas emocionais. Independente da causa, a hipnoterapia é capaz de auxiliar na solução desses problemas subjacentes a aprendizagem. 

As sugestões hipnóticas assertivas podem fazer muito pela capacidade de estudo, memorização ou simplesmente melhorar forma como exercemos as atividades cotidianas.

A hipnose como auxílio do tratamento da dor

A hipnose é muito procurada por pessoas que precisam de terapia alternativa para seus medos, fobias, quadros de ansiedade e depressão.

No entanto, quadros clínicos de dor, seja crônica ou aguda, também podem ser melhorados com a hipnose.

A técnica consegue estimular, por meio do relaxamento e das visualizações, a produção de hormônios relacionados ao bem-estar, como endorfina e serotonina. Com isso, o efeito analgésico neutraliza a ação do cortisol, hormônio relacionado ao estresse, que é produzido sempre que a mente se vê diante de algum processo doloroso.  

Em hipnose, ficamos tão focados em nossa imaginação e sensação de bem-estar, que os neurotransmissores simplesmente inibem a percepção da dor!

Outras vantagens da auto-hipnose

A auto-hipnose também pode ser usada para melhorar comportamentos e atingir objetivos profissionais, acadêmicos e até de personalidade como: 

A perspectiva sociocognitiva da auto-hipnose

Tenha um objetivo para ter sucesso

O que determina o sucesso de uma pessoa na auto-hipnose científica é o engajamento em direção ao objetivo. Quanto mais engajada ela estiver, mais suscetível à hipnose ela estará.

Pense, por exemplo, em alguém que deseja usar hipnose para parar de fumar. E outra que deseja ser hipnotizada apenas para saber como é a sensação de estar hipnotizada. Qual desses dois voluntários estará mais engajado no processo?

É muito fácil perceber que o primeiro voluntário, que deseja parar de fumar, vai estar muito mais motivado e se permitirá mais.

Quando essa pessoa começar o processo de auto-hipnose, vai fazer o máximo para ser um bom sujeito. Logo, ela pode desempenhar todo o comportamento que é esperado de uma pessoa que quer parar de fumar!

Enquanto isso, a segunda pessoa que diz que quer apenas entrar em auto-hipnose, mas que não tem um propósito bem definido, certamente vai ter dificuldade em encontrar o comportamento adequado para entrar em hipnose.

Por essa razão, entender a hipnose como um “estado alterado de consciência” pode ser uma percepção nociva.

Concentre-se na meta

Essa percepção é nociva porque enfoca na ideia de que entrar em hipnose ou auto-hipnose requer um ato passivo. Ou seja, a pessoa simplesmente se concentra para entrar em um estado especial, que ela não sabe exatamente o que é.

As interpretações do que seja o transe hipnótico são completamente subjetivas e adversas. Ainda que exista uma sintomatologia comum a todas as pessoas, em geral, cada pessoa vai perceber esse transe de maneira diferente.

Mas, se a pessoa entrar no processo com um objetivo bem definido, como parar de fumar, acabar com uma fobia ou controlar a ansiedade, essa pessoa vai ter maiores chances de ser bem sucedida na hipnose e alcançar seu objetivo. Ela vai saber seguir as instruções adequadamente, simplesmente porque ela quer muito isso.

Não duvide de seu engajamento

Quando a pessoa não está engajada, o hipnotista dá uma sugestão e ela pensa: “Será que vai funcionar? Será que ele vai invadir minha mente? Minha mente é tão inabalável!”.

Contudo, a pessoa que entra na hipnose com um propósito bem definido tem coisas mais importantes para pensar durante o processo. Algumas pessoas podem se indagar para que serve colar as mãos ou esquecer o nome na hipnose. Pois, para o sujeito, isso pode significar que ele é realmente capaz de reprogramar a sua mente e suas crenças.

A maior questão que está sendo levantada aqui é que se você ficar o tempo todo pensando “vou sentir um estado de transe, preciso entrar em transe”, poderá estar sabotando a atitude mental em direção ao seu objetivo. No final das contas, é o que realmente importa!

Mulher faz auto-hipnose na banheira
A pessoa que entra na hipnose com um propósito bem definido tem coisas mais importantes para pensar durante o processo.

Como fazer auto-hipnose com base na perspectiva sociocognitiva?

Conheça o CSTP

Nos anos 1980, surgiu a primeira bateria de exercícios sócio cognitivos para melhorar a performance em hipnose: o CSTP – Pacote de Treinamento de Competências de Carleton.

Desenvolvidos pelos pesquisadores Donald Gorassini e Nicholas Spanos, o objetivo era fazer com que o voluntário mudasse sua postura em relação à hipnose.

Perceba que vamos falar o tempo todo de entrar no processo hipnótico, entrar na hipnose, que significa ter a postura mental adequada.

Os participantes do processo de treinamento foram treinados a responder adequadamente a vários tipos de sugestões. Desde respostas ideomotoras — aqueles movimentos que fazemos inconscientemente apenas por pensar nesse movimento — até outras sugestões mais complexas, como amnésia.

Para gerar esse “autoengano” voluntário, o protocolo CSTP indicou que, ao entrar na hipnose, o voluntário deve ser informado de que ele deve, realmente, responder à sugestão de forma voluntária. Porém, imaginando que ela está acontecendo de forma automática.

Ao imaginarmos que ela acontece automaticamente, parece que acontece uma generalização desse estímulo. Logo, passamos a conseguir desempenhá-lo de modo automático, outras vezes.

Exercício dos livros e balões

Pode parecer complicado, mas é bem simples. Lembre-se daquele famoso exercício dos livros e balões. A pessoa estende os dois braços. Se se ela for destra, fecha a mão direita, coloca o dedão para cima e deixa a mão esquerda estendida, com a palma virada para cima. Enquanto está nessa posição, você pede para ela fechar os olhos e imaginar que na mão direita, você está colocando vários balões de hélio. E na mão esquerda, existem um ou mais livros bem pesados, que vão pesando cada vez mais. Em geral, as pessoas acabam movimentando essas mãos ao menos um pouco, por causa do movimento ideomotor.

Mas, o que uma pessoa pode fazer para melhorar a sua resposta a esse tipo de exercício ideomotor em auto-hipnose? 

Quando a pessoa faz esse exercício, ela fecha os olhos e imagina que a mão direita tem um balão ou vários balões que fazem sua mão subir lentamente. Imagina também que a mão esquerda vai ficando cada vez mais pesada devido a presença de um ou vários livros. Geralmente, as pessoas tentam apenas imaginar e esperar que, de certa forma, o movimento ideomotor se transforme em auto-hipnose, automaticamente.

A ideia do CSTP não é apenas essa!

Do contrário, a pessoa deve, voluntariamente mexer suas mãos e, enquanto mexe, imagina que esse movimento está acontecendo de forma automática.

Enquanto ela se concentra e de forma deliberada, vai movimentando as mãos. Se concentra também na ideia de que as mãos estão se movimentando de forma involuntária. Isso causa uma sobrecarga na memória operacional e temporária do cérebro.

Quando você começa, voluntariamente, a levar a mão, está ocupando uma parte da sua mente consciente. Mas, ao se concentrar na ideia de que sua mão sobe sozinha, aquele pensamento inicial consciente acaba perdendo força e você consegue instalar, inconscientemente, o comportamento do movimento da mão para cima e o mesmo com a mão para baixo.

Exercício das mãos magnéticas

Outro exercício ideomotor muito interessante é o das “mãos magnéticas”. O hipnotista pede que o voluntário estique bem os braços, feche os olhos e imagine que essas duas mãos são dois imãs muito poderosos. Esses imãs se atraem mais e mais. Como se um tivesse um polo positivo e outro negativo, eles vão se atraindo cada vez mais.

A maior parte das pessoas desenvolve no mínimo um pequeno movimento devido ao fenômeno ideomotor. No entanto, essa resposta pode ser treinada e melhorada.

Se você simplesmente colocar as mãos desta forma, fechar os olhos e começar a movimentar as mãos levemente, consciente, mas imaginando que estão se movendo sozinhas, você vai começar a criar esse movimento automático. O cérebro começa a generalizar a resposta para outros fenômenos.

Finja até que aconteça

Existe um ditado que diz: “fake it till you make it ”. Em outras palavras, finja até que aconteça. É isso que acontece no CSTP. Você vai fingindo de forma voluntária. Ativamente vai se concentrando na ideia de que isso acontece de automático. Que não está acontecendo devido a sua vontade consciente.

O protocolo do CSTP dá a seguinte orientação: “Faça de forma voluntária tudo aquilo que lhe é sugerido. No entanto, não preste atenção ao fato de você estar fazendo isso voluntariamente. Foque toda a sua atenção às sugestões e a imaginar, de forma plena, tudo aquilo que acontece”.

Outros exemplos

O curioso é que muitos hipnotistas do passado já tinham essa ideia intuitiva de fingir até que aconteça de verdade. Um grande exemplo é Milton Erickson. Ele desenvolveu uma técnica chamada “indução ensaiada”.

Nessa indução, Erickson falava para o sujeito que iria treiná-lo a entrar em transe. Ele sugeria para a pessoa que fingisse os comportamentos compatíveis com a ideia de transe e, ao fingir, a pessoa realmente engajava no processo.

Até mesmo Dave Elman teve essa ideia, de que a hipnose requer uma automatização do comportamento. Ele dizia que a princípio poderia ser voluntário, mas que por fim se torna automático.

Quando Elman ensinava auto-hipnose para crianças, ele pedia a elas que fingissem que os seus olhos não podiam abrir, até o momento em que não abrissem, de fato.

O seu cérebro aprende observando

O último passo do protocolo CSTP para conseguir entrar em auto-hipnose é, simplesmente, ver pessoas entrando em hipnose e auto-hipnose.

Em meados do século 19, James Braid percebeu um fato bem interessante. Quando ele hipnotizava alguém e outras pessoas assistiam, essas pessoas que assistiam o procedimento acabavam se tornando melhores sujeitos para entrar em hipnose depois.

Quem faz demonstrações públicas de hipnose na rua ou na casa de amigos, já deve ter percebido que quando a primeira hipnose dá certo, a tendência é que todas as outras funcionem.

Outra coisa bastante interessante, principalmente na hipnose de rua, é quando um sujeito tem alucinações. Ou seja, a pessoa vê algo que não existe. A quantidade de alucinações nos outros voluntários é bem maior.

Tudo isso é uma prova de que a hipnose funciona por meio da expectativa. Mais que isso, essa expectativa também ensina as pessoas qual comportamento devem ter para entrar em hipnose. Por isso, no treinamento CSTP, existem muitos exercícios ideomotores. Mas para todos eles, é essencial o engajamento.

Aliás, esse protocolo já foi repetido várias e várias vezes nos anos 1980 e 1990. E até os dias de hoje continua tendo excelentes resultados!

BÔNUS: Sugestões pós-hipnóticas

A sugestão hipnótica é feita durante o estado hipnótico, mas surtirá efeito após o transe hipnótico.

São inúmeras as possibilidades de sugestões e elas devem ser adaptadas de forma que atendam às suas necessidades e objetivos. Abaixo, deixo algumas ideias que podem ser usadas em sua auto-hipnose.

  • “Sou uma pessoa melhor a partir de agora.”
  • “Eu sou calmo (a).”
  • “A cada dia que estou mais seguro (a) e relaxado (a).”
  • “Sou confiante e assertivo (a) quando converso com as pessoas.”
  • “Eu me aceito como sou.”
  • “Acho fácil parar de fumar.”
  • “Faço somente refeições saudáveis no dia.”
  • “Sou saudável e tenho uma ótima saúde.”
  • “A cada dia que passa sou melhor no que faço.”

E então, você ainda ficou com dúvidas sobre como fazer auto-hipnose? Se quiser se aprofundar no assunto, faça meu curso de auto-hipnose e compreenda melhor as técnicas e transformações que ocorrem na nossa mente. Até lá!

Referências bibliográficas

¹ Szechtman H, Woody E, Bowers KS, Nahmias C (1998) Where the imaginal appears real: Apositron emission tomography study of auditory hallucinations. Proceedings of theNational Academy of Sciences 95: 1956–60.

² Rainville, Pierre & Hofbauer, Robert & Paus, Tomas & Duncan, Gary & Bushnell, Mary & Price, Donald. (1999). Cerebral Mechanisms of Hypnotic Induction and Suggestion. Journal of cognitive neuroscience. 11. 110-25. 10.1162/089892999563175.

³ Nadon R, Laurence JR, Perry C. Multiple predictors of hypnotic susceptibility. Journal of Personality and Social Psychology. 53: 948-60. PMID 3681659

⁴ Gorassini, D.R. & Spanos, N.P. (1999). The Carleton Skills Training Program for ModifyingHypnotic Suggestibility: Original version and variations. In I. Kirsch, A.Capafons, E. Cardena-Buelna, & S. Amigo (Eds.), Clinical hypnosis and self-regulation (pp. 141-180). Washington, DC: American PsychologicalAssociation.

⁵ Gorassini, D. R., & Spanos, N. P. (1999). The Carleton Skill Training Program for modifying hypnotic suggestibility: Original version and variations. In I. Kirsch, A. Capafons, E. Cardeña-Buelna, & S. Amigó (Eds.), Dissociation, trauma, memory, and hypnosis book series. Clinical hypnosis and self-regulation: Cognitive-behavioral perspectives (p. 141–177). American Psychological Association.

 

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